A vitória da razão é o gesto individual ou colectivo de alguém, que com um gesto, desmorona uma máquina bélica, talhada e traçada para degolar os adversários. A vitória da razão é um hino à liberdade! Uma estrofe à coerência. Uma rima à democracia. Um rap à justiça.
Por William Tonet
É um poemário de 36 trilhas, convertidas em nobres dias, numa luta incessante contra as algemas belicistas de um regime monárquico, que faz da força a única razão da sua sobrevivência.
Mas, nesta luta, contra os jovens considerados “frustrados”, José Eduardo dos Santos, foi derrotado, copiosamente derrotado, expondo o seu regime e partido, como nunca antes acontecera, a bestialidade de ideais, a banalidade política, a vulgaridade estratégica, a boçalidade intelectual.
Um monturo de incompetência, vergado à convicção moral de Luaty Beirão, ligado a um balão energético com a temperatura 14+1 de presos políticos, enclausurados nas fedorentas masmorras do regime.
36 dias depois, a luta deu lugar à razão: os frustrados, afinal, estão e moram do outro lado da barricada regimental, desesperados por não conseguirem anestesiar “300 jovens”, como advoga o seu líder.
36 dias depois, o país e o mundo consegue melhor identificar o lobo que se esconde por detrás da pele de cordeiro, a sua perversidade e carácter vampiro, que é indiferente à natureza inocente do cidadão governado.
Diante deste cenário, valeria a pena o sacrifício da nobreza de carácter de um jovem destemido e comprometido com a verdade e as liberdades?
Definitivamente, não!
A dimensão da luta e a sensibilidade, na sua condução, requisitam Luaty Beirão a adiar esta batalha, depois de vencida, não fosse a de Pirro, comparar-se-lhe, para as novas empreitadas que se avizinham, em nome da cidadania.
O país, já não restam dúvidas, está sob colonização “JES/Emepealistica”, mas a vontade e determinação das suas gentes, dos seus povos é cada vez maior, em libertar o país das mãos de uma minoria sedenta de poder, que não vê meios para justificar os macabros fins. Logo, os bons, não podem, não devem, vergar-se, no lamaçal de energúmenos partidocratas, sempre desejosos de abrir champanhe na partida ou no calar de mais uma voz coerente e vertical.
Luaty, o sacrifício, dando a própria vida, faz parte da luta pela justiça, mas andar sozinho e desarmado em carreiros espinhosos, para resgatar a “paz aprisionada” é, também, um sublime sacrifício em prol da justiça e da cidadania.
Tu venceste, por 36…
O regime de Eduardo dos Santos, com a sua insensibilidade de nem sequer saber ser pai do país, perdeu estrondosamente.
As sementes regadas com o suor “luatyano” a partir do “leito-prisão”, ludibriaram os guardas prisionais, humilharam a máquina bélica do regime, estando a germinar novas e mais mentes ávidas de liberdade e democracia.
O Luaty mostrou que, um homem determinado, munido de bandeira branca, pomba de igual cor, balança mental e um sussurro de pureza, faz estremecer a máquina do monstro. Logo, todos democratas unidos, NÓS PODEMOS!
Basta ver, que nunca, em tão pouco tempo, houve da parte do regime, tanta “explicativa carnavalesca”, sobre as ilegalidades, habituados que estavam a vergar os democratas, constitucionalmente consagrados, pela força das armas, intimidação, espancamento, aprisionamento, corrupção e assassinatos.
É verdade que tudo é feito em nome da legalidade de um (des)governo de 40 anos, sem legitimidade democrática, daí ter passado a provação, mais do que durante o conflito militar, nestes últimos 36 dias de greve de fome de Luaty Beirão e excesso de ilegal prisão preventiva dos restantes 14+1.
Uma saloia acusação, parida em mentes demoníacas, por temor aos ventos da liberdade e da democracia, transformou inocentes jovens, que estavam a ler um livro, munidos de 12 lapiseiras, um lápis de carvão, três blocos e uma pen-drive (considerado o arsenal) em golpistas, que atentavam contra o poder omnipotente e de cunho monárquico do Presidente da República de Angola há 36 anos no poder, sem nunca ter sido nominalmente eleito.
E aqui se cruzam duas verdades antagónicas: a primeira é que Luaty Beirão, em 36 dias de greve de fome, mostrou ao país e ao mundo, ser um jovem de causas, ter coerência, convicções e sentido de justiça. Acredita e bate-se em prol da liberdade e da democracia, institutos com consagração constitucional, logo aceita todos os sacrifícios em nome da sã confrontação democrática e sem fraude.
A segunda é que em 36 anos de poder ininterrupto, sem nunca ter sido nominalmente eleito, José Eduardo dos Santos governa a uma só voz, assente numa política de discriminação, autoritarismo, violência, perseguição política, espancamento policiais, assassinatos, corrupção, etc..
Em 36 anos de poder, José Eduardo dos Santos unificou os três poderes (executivo, legislativo e judicial), não sendo nenhum independente, nem no seu seio existe alguém (são partidocratamente escolhidos) com coragem de o ser e capacidade de denunciar as arbitrariedades, tentando imitar o que fizeram os deputados ingleses, em 1628, ao Rei Carlos I, quando este tentou subverter a Magna Carta de 1215, exibindo-lhe a “Petition of Rights”.
Aqui, a cada arbitrariedade os integrantes dos órgãos do poder, ajoelham-se, numa clara demonstração de cega submissão e falta de pensamento. E ao arrepio, paradoxalmente, da própria “constituição jessiana”, JES subjugou a justiça, extrapolando o art.º 119.º da CRA, domou, com benesses e mordomias o MPLA e os intelectuais assimilados, subverteu a democracia, instaurou, sub-repticiamente, uma monarquia adversa às liberdades e democracia.
Mais grave, como retribuição, a carga e violência policial e militar, contra os cidadãos, que recorrem ao art.º 47.º (Liberdade de reunião e manifestação), de forma pacífica e sem armas, o Tribunal (Jaguares) Constitucional, ao arrepio da constituição empossou em sentido contrário ao art.º 114.º JES, sem que este até agora, cumprisse, sequer a formalidade do n.º 3 do artigo atrás citado, logo o exercício presidencial, está ferido de legitimidade, ao não ter suspenso o mandato como deputado, pelo qual foi eleito, como cabeça de lista e não como Presidente da República, cuja eleição teria de ocorrer no interior da Assembleia Nacional.
Ora, como se pode aferir, em 36 anos de poder, são muitas as violações à Constituição e à Lei, que o povo, assiste impávido e sereno e, mesmo assim, não quer mal ao Presidente da República, já o inverso é verdadeiro, como prova este recente episódio.
Falta a JES dimensão de justiça, humanismo real (que não sirva de arma de arremesso pejorativo, como faz, na companhia dos seus muchachos, de tempos em tempos, aos membros da UNITA, não assassinados em 2002) e democracia, para que o mundo e o país real, possam um dia, brindar-lhe com a mesma solidariedade emprestada ao Luaty e a todos os presos políticos, cuja coerência ultrapassa as respectivas vaidades umbilicais. Falta-lhe a defesa de causas nobres, de sentido de justiça, de equidistância, transparência, conciliação, liberdades e justiça.
Daí, no caso vertente, se ter aplicado a máxima de nem tudo que é legal é legítimo, numa oração pura, em prol da justiça e da igualdade, tão arredias do mapa jurídico, social e partidário, pois enquanto a maioria dos políticos se acobarda, alguns intelectuais, com capacidade de inverter o quadro, se vergam às mordomias e, paradoxalmente, muitos padres e bispos fazem “orações mundanas” aos malfeitores, por 30 dinheiros, encobrindo todas as injustiças que cavam crateras, cada vez mais profundas no país, os jovens mostram o seu comprometimento com o que deve ser uma verdadeira e sã JUSTIÇA, num país que se diz democrático.
Vergonhosamente, a justiça em Angola está amarrada, viola a lei e assassina o direito, em nome da visão constitucionalmente monárquica de um homem só, que discricionariamente justicializa tudo, manietando juízes e procuradores, em nome de um cordão umbilical partidário.
O analfabetismo é a arma de arremesso contra a juventude visionária e quem o tentar combater, existem ordens expressas contidas no “Livro Branco da Ditadura” para agir como o fizeraam as autoridades castrenses no dia 20 de Junho de 2015, prender ilegalmente, jovens que estavam a vencer o analfabetismo político lendo um livro. Por esta nobre ousadia para a humanidade, eles estão há mais de 131 dias presos, sob acusação caluniosa do regime.
Por isso, quando no dia 16 de Novembro de 2015, iniciar o julgamento destes heróis da liberdade, o martelo será visto nas mãos de um corpo presente, mas estará teleguiado por uma mente ausente, que ditará uma sentença, já prévia e “futungamente”, elaborada, contra a liberdade e a democracia, por mais que os bajuladores do templo tentem, agora, fazer passar a imagem de uma separação, inexistente de poderes.
Em Angola só existe um poder! Apenas um, “jessianamente” falando, aquele, que Luaty, com a humildade e perseverança dos grandes homens, venceu, desarmado, sem exército privado, sem uma Polícia Nacional Partidária, sem uma comunicação social pública e privada bajuladora, no dia 26 de Outubro, frustrando-lhes, com o fim de uma greve de fome iniciada no dia 21 de Setembro de 2015, a abertura de champanhe, para comemorarem a sua morte.
Exemplos para quê? A morte de Jonas Savimbi e os ataques pejorativos dos deputados jessianos, estão registados na mente colectiva dos nossos povos.
[…] Fonte: Folha 8 […]